Neste tempo de Páscoa, é incontornável uma referência a Jesus Cristo, o Vencedor da morte. Vou recorrer para isso a Camões, ao seu soneto Verdade, Amor, Razão, Merecimento.
O poeta faz nele uma reflexão sobre o sentido da vida humana. Como, em seu entender, tudo é confuso no mundo, o mérito não é reconhecido, os mais sábios enganam-se primariamente, ninguém sabe propor um caminho de autenticidade, conclui então: «o melhor que tudo é crer em Cristo».
Verdade, Amor, Razão, Merecimento
qualquer alma farão segura e forte;
porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
têm do confuso mundo o regimento.
Efeitos mil revolve o pensamento
e não sabe a que causa se reporte;
mas sabe que o que é mais que vida e morte,
que não o alcança humano entendimento.
Doutos varões darão razões subidas,
mas são experiências mais provadas
e por isso é melhor ter muito visto.
Coisas há aí que passam sem ser cridas
e coisas cridas há sem ser passadas,
mas o melhor que tudo é crer em Cristo.
Este soneto é sem dúvida um dos grandes sonetos de Camões. A grandeza vem-lhe da profundeza do olhar do poeta sobre o mundo, sobre a situação existencial do homem e também da descoberta do porto de abrigo no Homem-Deus, o único capaz de dar sentido definitivo à vida humana.
Mas o mais conhecido dos poemas de tema religioso de Camões são as chamadas redondilhas Sôbolos rios. Vamos ler também um pouco do que aí escreveu. Não é texto fácil, por isso vou ler só algumas estrofes, inclusive não seguidas. O poeta dirige-se ao Salvador, a Quem chama «Senhor e grão Capitão / da alta torre de Sião», e suplica-Lhe que o ajude a vencer as grandes dificuldades que encontra no caminho que conduz a Sião, ao Céu.
A Vós só me quero ir,
Senhor e grão Capitão
Da alta torre de Sião,
À qual não posso subir,
Se me Vós não dais a mão.
…
Não basta minha fraqueza
Pera me dar defensão,
Se Vós, santo Capitão,
Nesta minha fortaleza
Não puserdes guarnição.
E tu, ó carne que encantas,
Filha de Babel tão feia,
Toda de misérias cheia,
Que mil vezes te levantas
Contra quem te senhoreia,
Beato só pode ser
Quem com a ajuda celeste
Contra ti prevalecer,
E te vier a fazer
O mal que lhe tu fizeste.
Para terminar, os versos finais do poema Liberdade, de Fernando Pessoa. Não é que sejam de espantar, e contêm até palavras ofensivas para Jesus Cristo. Mas ver-se-á que fazem algum sentido aqui:
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
terça-feira, 25 de março de 2008
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