sábado, 22 de dezembro de 2007

FELIZ NATAL!

Feliz Natal
e Próspero Ano Novo com a Beata Alexandrina!


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O NOSSO CÂNTICO DO SOL

Bela imitação do hino de S. Francisco, Cântico do Sol.

Altíssimo, potente e bom Senhor!
A Ti pertence toda a graça imensa,
a Ti pertencem bênçãos e louvor.

Louvado sejas por quem ama e pensa!
Por todas as humildes criaturas
que esplendem luz ou choram treva densa!

Pelo irmão Sol, candeia das alturas,
que afasta a noite, abrindo a aurora em rosa,
e faz crescer as açucenas puras.

Pela irmã Lua, a cismadora esposa
do Cântico dos Cânticos dos Céus,
vestida de alva prata a mais formosa.

Pelas estrelas, vivos lumaréus,
que nossos olhos fitam, evocando
o Teu poder, o Teu amor, ó Deus.

Louvado sejas pelo vento brando,
pela nuvem, pelo tempo e pelo ar
com que nos sustentamos, respirando.

Pela água dos vergéis, sempre a cantar
uma canção baixinho que, resume
os bramidos das ondas do alto-mar.

Louvado sejas Tu, Senhor, p'lo lume,
símbolo das virtudes verdadeiras
que ardem, nas almas, e lhes dão perfume.

P'la terra, mãe fecunda entre as primeiras,
que produz as violetas dos caminhos
e a lenha preciosa das lareiras.

Pelas ervas, romãs, e flor dos linhos!
P'lo coração dos que, por Teu amor,
andam de rastos, a calcar espinhos.

Louvado sejas ainda e mais, Senhor,
por nossas vozes breves e serenas,
mas cheias de ternura e de candor.

Somos as tuas brancas açucenas.
De Ti nos vem a força p'ra lutar,
com audácia de heróis, sobre as arenas...

Tombam rosas do céu... Alvor de luar.
Poisam pombas nas torres das igrejas.
Erguem-se as nossas almas para rezar.

Hoje e sempre, Senhor, louvado sejas!

P.e Moreira das Neves

terça-feira, 27 de novembro de 2007

CONTRADIÇÕES DO ATEÍSMO

Soneto de Bocage

Qual novo Orestes entre as Fúrias brada,
Infeliz que não crês no Omnipotente.
Com sistema sacrílego desmente
A razão luminosa, a fé sagrada.

Tua bárbara voz iguala ao nada
O que em todas as coisas tens presente;
Basta que o sábio, o justo, o pio, o crente
Louve a Mão contra os maus do raio armada.

Mas vê, blasfemo ateu, vê, monstro horrendo,
Que a bruta opinião que cego expressas
A si mesma se está contradizendo:

Pois quando de negar um Deus não cessas,
De tudo o inerte Acaso autor fazendo,
No Acaso, a teu pesar, um Deus confessas!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A EXISTÊNCIA DE DEUS

Versão bocagiana do poema «A Religião» de Racine

Deus, a Quem se deve a nossa crença,
Mortais, é Deus oculto:
Oh, que irrefragáveis testemunhas
Ante nós congregadas,
Pelas quais se revele a glória Sua,
A Sua omnipotência!
Respondei, mar e céu, responde, ó Terra,
Astros, mundos brilhantes,
Que mão vos esparziu, vos tem suspensos
Na etérea imensidade?
Donde te veio, ó noite, o véu lustroso?
Céus, ó céus, que grandeza!
Que assombro! Que esplendor! Que majestade!
Em vós, em vós conheço
Quem milagres sem conto obrou sem custo;
Quem nos vossos desertos
As luzes semeou, como semeia
Na terra o pó volátil,
Ó tocha do Universo, autor dos dias,
Da aurora anunciado!
Ó astro, sempre o mesmo e sempre novo!
A que mando obedeces,
Por que preceito, ó Sol, dos mares surges,
Restituindo ao mundo
O raio amigo, a fértil claridade?
De teus lumes saudoso
Cada dia te espero, e tu não faltas.
Ah, sou eu quem te chama?
Sou eu talvez quem te regula o passo?
E a ti, pélago horrendo,
Que em teu bojo voraz como que intentas
Absorver toda a terra,
Que alto poder no cárcere arenoso
Retém, constrange, enfreia?
Em vão forcejas, assanhado e torvo
Para arrombar teus muros;
Morrem na praia as espumosas fúrias.
Esses, cuja avareza
No teu seio traidor corre a punir-se,
Quando em serras e abismos
Ora os levas aos Céus, ora aos Infernos.
Imploram-te clemência?
De olhos fitos na abóbada celeste,
Na fonte donde emana
Sobre os tristes mortais macio orvalho
De amor e de piedade,
Invocam, suspirando, o braço eterno
Domador das procelas.
Bradas naquele extremo, ó Natureza,
E as vistas lhe diriges,
Guias-lhe as preces ao supremo asilo,
As preces, o tributo
Que aterrados espíritos não negam
Ao númen esquecido,
Ou trocado até'li por mil quimeras.
As vozes do Universo,
Do assombrado Universo a Deus me chamam;
Sim; a Terra o pregoa.
«Fui eu quem produziu, fui eu (diz ela)
Quem compôs os matizes
Que a minha superfície aformoseiam?
Não fui eu, foi Aquele,
Aquele que assentou meus alicerces.
Às mil necessidades
Que te vexam, mortal, se logo acudo,
Deus, é Deus quem o ordena;
Os dons, que me confere a ti destina.
Flores com que me adorno,
Vós da mão Lhe caís sobre meu seio!
O Criador, o Eterno
Lá onde árida sou, e avara, e dura,
Lá no escaldado Egipto
(Para que folgue a tímida esperança
Do cultor desejoso)
Em prescrito momento ao Nilo acena,
Que trasborde, que inunde
Meus campos, alongando-se das margens,
E os orne, os enriqueça
De douradas espigas sussurrantes».
Assim se exprime a Terra;
E encantado de ouvi-la, e contemplando
Travados uns com outros
Por invisíveis, portentosos laços
Milhões de entes diversos,
Que à regra universal concorrem todos,
Encontro, encontro em tudo
A lei que os encadeia, a mão que os liga;
E do plano sublime
Num júbilo sem termo admiro, adoro
A pasmosa Unidade.

sábado, 24 de novembro de 2007

DOIS SONETOS CAMONIANOS DE NATAL

À Encarnação do Verbo Eterno

Desce do Céu imenso Deus benino
Para encarnar na Virgem soberana.
Porque desce o divino a coisa humana?
Para subir o humano a ser divino.

Pois como vem tão pobre e tão menino,
Rendendo-se ao poder de mão tirana?
Porque vem receber morte inumana
Para pagar de Adão o desatino.

É possível que os dois o fruto comem
Que de Quem lhes deu tanto foi vedado?
Sim, porque o próprio ser de deuses tomem.

E por esta razão foi humanado?
Sim, porque foi com causa decretado,
Se quis o homem ser Deus, que Deus fosse homem.


A Cristo Nosso Senhor no Presépio

Dos Céus à Terra desce a mor Beleza,
Une-se à nossa carne e a faz nobre;
E, sendo a humanidade dantes pobre,
Hoje subida fica à mor riqueza.

Busca o Senhor mais rico a mor pobreza;
Que, como ao mundo o seu amor descobre,
De palhas vis o corpo tenro cobre,
E por elas o mesmo Céu despreza.

Como? Deus em pobreza à terra dece?
O que é mais pobre tanto lhe contenta,
Que este somente rico lhe parece.

Pobreza este Presépio representa,
Mas tanto por ser pobre já merece,
Que quanto mais o é, mais lhe contenta.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

QUEM SABE?...

Queria tanto saber porque sou Eu!
Quem me enjeitou neste caminho escuro?
Queria tanto saber porque seguro
Nas minhas mãos o bem que não é meu!

Quem me dirá se, lá no alto, o Céu
Também é para o mau, para o perjuro?
Para onde vai a alma que morreu?
Queria encontrar Deus! Tanto o procuro!

A estrada de Damasco, o meu caminho,
O meu bordão de estrelas de ceguinho,
Água da fonte de que estou sedenta!

Quem sabe se este anseio de Eternidade,
A tropeçar na sombra é a verdade,
É já a mão de Deus que me acalenta?

Florbela Espanca (1894-1930)

AS CINCO CHAVES DA SABEDORIA

Segundo o Liber Quinque Clavium Sapientie (Livro das Cinco Chaves da Sabedoria), são estas as cinco chaves da sabedoria:

A primeira é a assiduidade na leitura: Prima sapientie clauis est legendi assiduitas;
A segunda é a memorização: Secunda clauis sapientie est memorie commendatio;
A terceira é a veneração pelo mestre: Tertia clauis sapientie est honor magistri;
A quarta é o desprezo das riquezas: Quarta clauis sapientie est contemptus diuitiarum;
Por fim, a quinta é a curiosidade constante: Quinta clauis sapientie est frequens interrogatio.

Quem desejará possuí-la?