domingo, 1 de junho de 2008

MOMENTO POÉTICO 17

Já falei aqui no grande sacerdote que foi o P.e Abel Varzim. A Póvoa conhece um outro grande sacerdote da sua geração, o Mons. Lopes da Cruz, fundador da Rádio Renascença e natural de Terroso. Mas hoje vou começar por ler um poema dum sacerdote do mesmo tempo, o padre jornalista e poeta Moreira das Neves. É um poema que vai beber ao Cântico do Irmão Sol, de S. Francisco de Assis, que também lerei.


O NOSSO CÂNTICO DO SOL

Altíssimo, potente e bom Senhor!
A Ti pertence toda a graça imensa,
A Ti pertencem bênçãos e louvor.

Louvado sejas por quem ama e pensa!
Por todas as humildes criaturas
Que esplendem luz ou choram treva densa!

Pelo irmão Sol, candeia das alturas,
Que afasta a noite, abrindo a aurora em rosa,
E faz crescer as açucenas puras.

Pela irmã Lua, a cismadora esposa
Do Cântico dos Cânticos dos Céus,
Vestida de alva prata a mais formosa.

Pelas estrelas, vivos lumaréus,
Que nossos olhos fitam, evocando
O Teu poder, o Teu amor, ó Deus.

Louvado sejas pelo vento brando,
Pela nuvem, pelo tempo e pelo ar
Com que nos sustentamos, respirando.

Pela água dos vergéis, sempre a cantar
Uma canção baixinho que, resume
Os bramidos das ondas do alto-mar.

Louvado sejas Tu, Senhor, p'lo lume,
Símbolo das virtudes verdadeiras
Que ardem, nas almas, e lhes dão perfume.

P'la terra, mãe fecunda entre as primeiras,
Que produz as violetas dos caminhos
E a, lenha preciosa das lareiras.

Pelas ervas, romãs, e flor dos linhos!
P'lo coração dos que, por Teu amor,
Andam de rastos, a calcar espinhos.

Louvado sejas ainda e mais, Senhor,
Por nossas vozes breves e serenas,
Mas cheias de ternura e de candor.

Somos as tuas brancas açucenas.
De Ti nos vem a força p'ra lutar,
Com audácia de heróis, sobre as arenas...

Tombam rosas do céu... Alvor de luar.
Poisam pombas nas torres das igrejas.
Erguem-se as nossas almas para rezar.

Hoje e sempre, Senhor, louvado sejas!

Moreira das Neves

“No princípio criou Deus o Céu e a Terra”: este cantico do Sol é um canto da criação. Nas criaturas ficaram marcas do Criador, daí que seja natural que os homens subam até Deus a partir das suas obras, que são de maravilha quer aos níveis químico, botânico, zoológico, humano, astronómico.
O P.e Moreira das Neves uma vez escreveu um poema sobre tema poveiro. Vamos vê-lo:

Lembrança da Jornada Eucarística realizada na Póvoa de Varzim, a 29 de Setembro de 1931 – Dia de S. Miguel

Bendita a vossa jornada
Cheia de ardor triunfal
E de alegria encantada,
Cruzados de Portugal!

Vós sóis custódias de amor
De um esplendor nunca visto,
Cavaleiros do Senhor,
Soldados de Jesus Cristo!

Revoada de mariposas,
Batalhão de criancinhas:
Tendes o encanto das rosas
E a graça das andorinhas.

Se a gente vos vê passar,
Sente que passa Jesus.
No fundo do vosso olhar,
Há infinitos de luz.

Rumor de almas em tropel?
— Deixá-lo! A hora é de esp'ranças!
A Espada de S. Miguel
Vos acompanha, crianças!

Avante! Passai! Rompei,
Em demanda do Graal!
Por Jesus e pela Grei,
Cruzados de Portugal!

Padre Moreira das Neves


S. Francisco de Assis era italiano, todos sabemos. Mas apesar disso, vamos ouvir este seu poema. Aliás, ainda havemos de ouvir aqui alguns poemas, um de Camões, sobre este santo.


CÂNTICO DO IRMÃO SOL

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
A Ti pertencem os louvores, a glória, a honra e toda a bênção!
A Ti só, Altíssimo, se hão-de prestar
E nenhum homem é digno de pronunciar o Teu Nome.

Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as Tuas criaturas,
Especialmente meu senhor, o irmão sol
Que faz o dia e nos dá a luz.
E ele é belo e radiante com grande esplendor;
De Tí, ó Altíssimo, nos traz imagem.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas;
No céu as formastes, claras e preciosas e belas.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão vento
E pelo ar e a nuvem e o sereno e todo o tempo
Pelo qual sustentas a s tuas criaturas.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã água
A qual é muito útil e humilde e preciosa e casta.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão fogo
Pelo qual alumias a noite
E ele é belo e alegre e robusto e forte.

Louvado sejas, ó meu Senhor, por nossa irmã a mãe terra
Que nos alimenta e governa
E produz variados frutos e flores coloridas e erva.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelos que perdoam, por amor de ti,
E suportam enfermidade e tribulação.
Bem-aventurados aqueles que as sofrem em paz,
Pois que por Ti, ó Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, ó meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal
Da qual nenhum homem vivente pode escapar;
Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Bem-aventurados aqueles que se tiverem conformado com a Tua santíssima Vontade,
Porque a morte segunda lhes não fará mal.

Louvai e bendizei ao meu Senhor e dai-Lhe graças
E servi-O com grande humildade!

Como também é sabido, há quem aproxime este poema do Hino aos Sacrários da Beata Alexandrina. Hino que foi recentemente traduzido para latim.

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