domingo, 1 de junho de 2008

Momento poético 16

Hoje vou começar por um poemeto de um tal A.T. de Castilho, poeta que desconheço, intitulado A, B, C… O texto é construído a partir da sucessão das letras do alfabeto. Mesmo que se possa achá-lo de valor poético menor, ele mostra como se podem usar muitos pontos de partida para louvar a Mãe de Deus.

A, B, C…

A – Ave Maria,
B – Bondosa e bela,
C – Cofre de graças,
D – Divina estrela!

E – Esperança nossa,
F – Fonte de Amor,
G – Génio de bem,
H – Honesta flor.

I – Íman divino,
J – Jóia mimosa,
K – Koran sagrado,
L – Luz bem formosa.

M – Mãe dos mortais,
N – Nuvem dos brilhos,
O – Orai por nós,
P – Por nossos filhos.

Q – Querida Virgem,
R – Remédio ao mal:
S – Socorre sempre
T – Todo o mortal.

U – Único abrigo,
V – Vital, fecundo,
X – X do mistério,
Z – Zelai o mundo.

Lembra os acrósticos, poemas cujos versos se iniciam pelas letras do nome das pessoas.
Agora um soneto de Diogo Bernardes, um contemporâneo de Camões:

A NOSSA SENHORA

Ó Virgem bela e branda, quem já vira
Este coração meu tão inflamado
Em vosso doce amor, que outro cuidado,
Outro querer em si não consentira!

Oh, quem asas me dera que subira,
Das afeições humanas desatado,
A tão seguro e venturoso estado,
Onde em vão não se chora nem suspira!

Em tanto como pode desejar-Vos
Sem culpa, quem reparte o seu desejo,
Todo devido a Vós sem faltar nada?

Tal Vos vejo, Senhora, e tal me vejo,
Que sei de mim que não mereço amar-Vos,
Merecendo Vós só de ser amada.

É uma meditação comovida sobre as excelências da Virgem Maria por um poeta que se sente indigno de tratar tão alto tema.
E para concluir um soneto de Camões, intitulado À Conceição de Virgem Nossa Senhora. Conceituoso como o de Bernardes.
No poema aparece a expressão “sacra Fénix”. De si Fénix indica uma ave lendária que renascia das próprias cinzas. Em tempos foi hábito aplicá-la a Jesus Cristo vencedor da morte. Neste caso, talvez queira dizer que Nossa Senhora nasceu imune de pecado, como os primeiros pais da humanidade.

À Conceição de Virgem Nossa Senhora

Pera se namorar do que criou,
Te fez Deus, sacra Fénix, Virgem pura.
Vede que tal seria esta feitura
Que para Si o Seu Feitor guardou!

No seu alto conceito Te formou
Primeiro que a primeira criatura,
Pera que única fosse a compostura
Que de tão longo tempo se estudou.

Não sei se digo em tudo quanto baste
Pera exprimir as raras qualidades
Que quis criar em Ti quem Tu criaste.

És Filha, Mãe e Esposa: e se alcançaste,
Ua só, três tão altas dignidades,
Foi porque a Três de Um só tanto agradaste.

Dadas as subtilezas maneiristas presente no soneto, ele não é fácil. Vou por isso dar alguma explicação sobre os dois tercetos.
Em “Que quis criar em Ti quem Tu criaste”, “quem Tu criaste” é o Filho, que foi quem criou a Mãe...
No terceto final, Maria é Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo, e estas são as suas “três tão altas dignidades”. No último verso “Três” refere-se às pessoas da Santíssima Trindade e “de Um só” diz-se de um só Deus.

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