quarta-feira, 16 de julho de 2008

MOMENTO POÉTICO 21

Hoje vou ler três pequenos poemas de um sacerdote que foi pároco no nosso arciprestado, o P.e António Martins de Faria. Ele nasceu em Barcelos, a 12/9/1837, e faleceu na Póvoa de Varzim, em casa dum seu irmão, em 16/10/1913, com 76 anos.
Além de pároco, foi jornalista, orador e poeta.
Como pároco, esteve à frente de uma freguesia barcelense, antes de vir para Balasar. Dali foi para Beiriz, onde se manteve quase trinta anos.
Fundou um jornal em Barcelos, pelo que deve ter dado colaboração à imprensa ainda no período em que se encontrava em Balasar. Colaborou nos jornais poveiros Estrela Povoense e n’A Propaganda. Afora os escritos saídos em variada imprensa periódica, publicou um opúsculo sobre Santa Eulália de Mérida, em 1894, e dois pequenos livros de poemas, Vozes de Alma (1910) e Últimas Vozes (1913). Nas Vozes de Alma, republica o poema sobre Santa Eulália.
O poema que vou ler, em quatro quadras, intitula-se Amor de Deus:

Amor de Deus

Ou me sente, à noite, à mesa,
Os meus livros folheando;
Ou ande o meu giro dando
De manhã pela devesa –

Ou suba, com sol, ao monte,
Para ver rolar o mar;
Ou desça ao val’, com luar,
Para ouvir gemer a fonte –

Ou a colher violetas
Me quede no meu jardim;
Ou, feito criança, enfim,
Corra atrás das borboletas –

Em toda a parte, Senhor,
Como diz um grande santo,
Me sinto com doce encanto
Cercado do teu amor.

O P.e António de Faria pelos vistos era um bom conversador e, como aqui diz, levava a vida sem grandes dramas, de um modo simples.
O próximo poema intitula-se Existência de Deus. O autor afirma a existência de Deus apoiando-se no espectáculo da criação, pois, como escreve, não pode haver “obras sem obreiro”. O mundo não se criou a si mesmo nem muito menos estabeleceu as regras que o governam.

Existência de Deus

Ao ver o céu, a terra, o mar, o monte,
Num Ser Omnipotente,
Que foi e fora sempre antes de tudo,
Que forma deste mundo o conteúdo,
Eu creio firmemente.

Com Ele pode o homem, quando queira,
De tudo dar razão,
Desde o ente mais vil, em seu conceito,
Até ao ser mais nobre e mais perfeito
De toda a criação.

Com Ele, o ser do sol, o ser da lua,
Da luz e mais do ar;
Com Ele, os vendavais, as maresias,
Os frios, os calores, noites e dias,
Bem pode perscrutar.

Unido ao corpo seu estreitamente,
Um outro ser também
Com Ele, pode o homem descobrir,
Capaz de bem amar e bem servir
Na terra o Sumo Bem.

Ao contrário, porém, sem Ele, o Mestre
De todo o magistério,
O mundo para mim, p’ra minha mente,
Foi, é e será eternamente
Insondável mistério.

Para se crer, sem Ele, em tantos seres,
Fora mister primeiro
Ao estulto ateísta demonstrar
Que é dever da razão acreditar
Em obras sem obreiro.

Mas é impossível; e portanto
Num Ser Omnipotente,
Que foi e fora sempre antes de tudo,
Que forma deste mundo o conteúdo,
Eu creio firmemente.

A estrofe final do poema repete quase toda a primeira, reiterando assim a afirmação da fé do poeta.
O último poema é mariano. O autor parte da invocação da Ladainha de Nossa Senhora em que Ela é declarada Mãe Puríssima (Mater Purissima, em latim).

Mater Purissima
(Mãe Puríssima)

Ladainha

Se à Virgem, Mãe da Pureza,
Querem dar provas de amor,
Dê-lhe o céu o seu fulgor
E a terra sua beleza.

Dê-lhe o sol seus arrebóis
E as suas per’las o mar;
Dê-lhe a lua o seu luar
E o seu canto os rouxinóis.

Dê-lhe a fonte os seus cristais
E as suas flor’s o vergel;
Dê-lhe a colmeia seu mel
E seu perfume os rosais.

Dê-lhe o poeta canções;
Dê-lhe quadros o pintor;
E vós, almas do Senhor,
Dai-lhe os vossos… Corações.

Toda a criação deve oferecer o seu melhor à Mãe Puríssima.

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